sexta-feira, 1 de novembro de 2019

A "Docialização" dos Fabianos no Brasil. - Jornada UERJ parte 03.


-Outra hora volto e falo sobre Baleia. Agora existem outros aspectos da obra Vidas Secas escolha do DESEA para redação da prova específica da UERJ que eu preciso abordar,caso contrário não serei eu mesma.

O Verbo Docializar para mim se definiria como: Tornar dócil,passivo,obediente e submisso o indivíduo. Tal verbo não existente nos dicionários de nossa língua eu produzi através de uma leitura sobre o conceito de Corpos Dóceis que é descrito pelo filósofo Foucault por uma fórmula simples: "o corpo dócil é tão obediente quanto produtivo. O soldado mais mortal e que obedece ordens mais prontamente; o aluno mais quieto e que tira notas mais altas; o trabalhador mais produtivo e menos preguiçoso; o doente mais criterioso no hora de tomar seus remédios e menos queixoso às dores do tratamento. "
-(Trecho retirado do site:https://razaoinadequada.com/2014/01/13/foucault-corpos-doceis/)




Em Vidas Secas durante o início do capítulo "O Soldado Amarelo" Graciliano Ramos nos apresenta uma situação onde Fabiano o personagem principal da história se depara com o mesmo soldado que o havia prendido um ano antes dali,depois de andar por cem "braças" brandindo seu facão ao vento cortando tudo o que impedia a sua passagem,se Fabiano não tivesse naquele momento recuado e visto o tal soldado ele poderia acabar assassinando-o em fração de segundos com um golpe rápido se outro impulso não tivesse dirigido seu braço a fazer o contrário. No princípio a visão do segundo homem em cena era a visão de um inimigo,e pior era uma autoridade que estava reagindo ao impulso dele tremendo de medo e não com a mesma medida de violência que ele esperava,Fabiano logo teve vontade de levantar o facão de novo mas seus músculos se afrouxavam e ele logo desistia,não queria matar um cristão e mais estava certo de que se o fizesse o perigo viria e por isso tinha medo do homem a sua frente,um medo que ele mesmo não entendia já que nunca tinha visto alguém tremer tanto na vida e por isso não sabia dizer de onde o medo vinha;Mas por que o guarda tremia?Ele não era o valente na cidade?Não pisava os pés dos matutos na feira?Não botava gente na cadeia?/A visão de medo nos olhos daquele homem irritava Fabiano porque o soldado não via que o pobre retirante era incapaz de vingar-se,e mesmo o retirante sabendo que poderia matar o guarda com as unhas se quisesse desistiu e assistiu seu inimigo se escorar em uma árvore da caatinga para evitar a queda. O Guarda ganhava dinheiro para maltratar indefesos e inofensivos e Fabiano sabia disso,mas ainda assim estaria certo matá-lo?Sendo ele quem era?Essas questões fervilhavam na cabeça de Fabiano,mas logo a cólera passou e a raiva se foi,ele se pôs a repensar seus próprios passos e seus atos,durante instantes que pareceram horas ele lembrou de si mesmo quando jovem e capaz aguentar brigas e pensou até nas glórias que poderia ganhar matando o tal soldado e de como se livraria do corpo dele,mas além desses pensamentos outros questionamentos também surgiam: Por que motivo o Governo se aproveitava de gente como ele?Se ele Fabiano andasse fardado iria ser capaz de pisar em outros trabalhadores tal qual fazia o amarelo?Não iria.
Não era assim que ele havia sido ensinado,ele sabia o que era ser um deles e por isso respeitaria os vacilos, e assim o vaqueiro guardou sua força dizendo a si mesmo que Governo é Governo,tirou seu chapéu curvou-se e ensinou o caminho ao soldado,ele já tinha questionado demais a si mesmo e já havia passado tempo demais para que ambos continuassem ali presos naquele impasse do qual de primeira não pensaram ter uma saída limpa,Fabiano foi um corpo dócil um dos muitos que andou e ainda andam por todos os cantos do Brasil submissos e obedientes aos soldados amarelos que o poder coloca em seus caminhos para ensiná-los que mesmo quando eles tiverem chances eles não podem cruzar a linha que os separam entre quem manda e quem apenas tem a opção de dizer "sim",sem perder tempo questionando ou repensando no que poderia acontecer se tal situação terminasse diferente.




Afinal o docializado que não pensa e não questiona produz mais e mais rápido,é sempre servente e quieto e nunca ousa a gastar sua força criada para o trabalho em uma luta já perdida contra a quem ele deve se submeter.
Essa foi a minha reflexão de uma das partes importantes da obra espero que vocês revejam o livro de outros modos a partir dela,e discutam sobre ela até o dia 1 de dezembro quando todos nos encontraremos de frente para a prova discursiva do vestibular de 2020,obrigada pela leitura e prometo que outra hora volto e falo sobre Baleia.

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