sábado, 24 de agosto de 2019

Gota D’água – Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes.| Primeira Análise.






É um livro escrito para narrar parte da realidade vivida em bairros do subúrbio do Rio de Janeiro, que separa bem e de forma direta os setores de classe média e a dita classe c também chamada de pobreza,mostrando que apesar de termos uma única carta magna que diz que temos todos direito a lei de uma forma igualitária nem todos temos acesso a ela.
Um livro que através do caso no início aparentemente isolado de uma só família as nuances de muitas realidades dos sobreviventes de bairros precários, sem lazeres além da cachaça e do riso da desgraça alheia, um povo sem fé definida mas adepto de muitas crenças,um povo que sabe sentir a esperança, mas não se ilude com a mesma.
Em Jasão encontro o renascido o que conheceu a miséria, a solidão, a idolatria, a intensidade, o fogo e o ar duro de cada dia na vila do meio dia e de lá saiu fortalecido para buscar a mansidão e a tranquilidade nos braços de Alma afim de se acomodar e os benefícios da Vitória de seu samba aproveitar.





Em Joana encontro o pulso forte, a intensidade, o enfrentamento, a ânsia da liberdade, o desejo pela vingança. Ela revela através de pensamentos e ações ser a mulher que luta com a força de um urso para ter consigo o que ela vê como dela e não descansa quando esse lhe escapa. Apesar de sua depressão demonstrada no início do texto em momento algum ela deixa de amaldiçoar e de destilar sua raiva em cima de Creonte, de Alma e de Jasão que ela julga como culpados de sua ruína e de seus filhos. Filhos do desgosto, sem pai e que mal comem já que ela não permite as visitas de Jasão e tão pouco está forte para alimenta-los e para dar a eles uma vida sadia.





Creonte é o senhor respeitado, a quem as mazelas do povo incomodam mas não ferem, só quer o bem de si, de seu status ou de sua cadeira como ele mesmo apresenta já na metade do roteiro, e de sua filha. De Jasão ele nunca quis e nem esperou nada, mas como a rapaz tinha jeito e lábia e ganhou assim o afago e o coração de Alma, quem muito solitária se via desde o falecimento da mãe, ele decidiu tentar o esforço de confiar e aceitar o rapaz pela felicidade da filha, e a garantia da parceria do samba por Jasão composto.





O casamento foi marcado, Creonte nele viu a felicidade da filha e um sucessor para sua cadeira. Joana viu nele o declínio de sua vida aumentar, e a dor o seu peito consumir. Jasão nele viu paz por estar com Alma, mas viu tormento por se preocupar com Joana; E os vizinhos viram o ouro, a mesa farta, a boa musica, a alta costura, a boa bebida e o motivo da fofoca da rua.
Outros que se destacam na história um por sua cordialidade e sensatatez,Mestre Egeu, e o outro por sua vulgaridade e irreverência Galego, o também chamado de ministro da cachaça, senhor do botequim, o que sempre de olho em Joana viveu mas até o momento em que viu Jasão de vez partir seguiu um vadio só assistindo o sofrimento da mulher e ouvindo o alarido sem nada reclamar.
Já Egeu sensato e prudente, estendeu a mão em solidariedade a Joana, aconselhou Jasão e insistiu em tentar fazê-lo voltar, organizou um movimento e convenceu o povo a atrasar o aluguel e depois esforçou-se para criar uma rebelião contra Creonte para cobrar melhorias na vila e uma possível diminuição das taxas para que todos conseguissem quitar suas casas e ficassem livres das dívidas, mas ele teve sua rebelião frustada pelas palavras de Creonte que como um candidato em eleições cobriu o povo revoltado de promessas e acabou deixando Egeu sem espaço diante da euforia causada pelo abono temporário.
Gota D’água é um ensaio sobre o rumo trágico que muitas vidas tomam a partir de cada impasse ocorrido e o livro que prova que as mazelas do local em que você vive, se alojam em seu coração e com a dor lá elas ficam até que outros ao verem a tua ruína festejem ou banalizem.


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